A empresária avaliou que a má distribuição de renda no Brasil afeta a sociedade como um todo. Para ela, é necessário uma reforma tributária que modernize o sistema de arrecadação e até taxe mais. “A desigualdade social não é um problema só do governo. É de todo mundo, porque atrapalha todo mundo”. Assista
LuizaTrajano defendeu a modernização e digitalização do sistema tributário brasileiro (Foto: World Economic Forum/Benedikt von Loebell)
247 – A empresária Luiza Trajano, em entrevista à TV 247, condenou a “terrível” desigualdade social no Brasil e defendeu um maior envolvimento do empresariado no combate.
Questionada por um internauta sobre como vê o problema da distribuição de renda e se acha correto o acúmulo de riqueza por bilionários, Luiza respondeu:
“Primeiro, ter dinheiro não é pecado para ninguém. O que eu vou fazer com esse dinheiro e como lido com ele que é o problema. Quando saiu essa lista [Forbes], eu falei, ‘vivo no valor das ações, hoje eu estou lá e amanhã não estou’. É o tipo de coisa que respeito, porque é uma revista que faz e é democrático, mas hoje eu estou na lista e amanhã não estou. Agora, se você trabalha e seu dinheiro está gerando outras coisas, não tem nada de mais”.
Sobre a desigualdade social, a empresária avalia que no Brasil esta é produto da escravidão. “A desigualdade social é terrível. Eu enfrento ela não é de agora. Eu vou para o Sertão faz 5 anos, sei o que é não ter água. Ela vem de uma escravidão, de quase 400 anos de escravidão, de uma abolição que ainda não existiu. As pessoas foram jogadas na rua sem comida, sem teto, sem nada. Vejo que tem que ter o Bolsa Família, a renda mínima e tem que gerar emprego, pois é também o emprego que dá liberdade para as pessoas. A escravidão continua de várias formas. Então, é necessário lutar. E a escravidão nos deixou algo muito triste, além de toda a desigualdade. Ela fez com que as pessoas, ou ela é o colonizado, ou o colonizador, principalmente agora na epidemia, com toda essa tristeza”, disse.
Papel do empresariado
Luiza ainda observou que a má distribuição de renda é como um “câncer”, afetando a sociedade como um todo, e elogiou o aumento das doações de empresários aos que passam necessidade na pandemia. “A desigualdade social não é um problema só do governo. É de todo mundo, porque atrapalha todo mundo. Quando um jovem não tem dinheiro para fazer uma inscrição de menor aprendiz, mas ganha 100 reais para vender droga, está se criando um traficante que amanhã pode vender para o seu filho ou neto. Então, a desigualdade é uma dificuldade de todo mundo. Por isso que, na realidade, ela tem que ser pensada globalmente, com todos. É um câncer na sociedade”, pontuou.
“Se não é por ideal, é por inteligência. Ela [a desigualdade] bate na porta de todo mundo. Veja quanto as empresas gastam com segurança. Veja o quanto você gasta, a falta de você poder ser você. Isso é uma coisa geral, é terrível. E agora foi escancarada a desigualdade social. O empresário está envolvido e precisa se envolver com a desigualdade”, completou a empresária.
Aumento de impostos
Trajano ainda se posicionou a favor de uma reforma tributária que torne o sistema de arrecadação mais eficiente através da digitalização. Desta forma, diz, impostos poderiam ser aumentados:
“O sistema tributário é um atraso de modo geral. Ele é burocrático. Não ganha o governo, não ganha o povo, não ganha a empresa. Já tentei entrar em reformas tributárias com diversos presidentes e nunca conseguimos fazer. Não falo que é muito ou pouco. É um sistema burocrático, que você gasta de 3% a 10% só na burocracia. O digital é uma cultura, não um aplicativo. O digital nasceu para simplificar os processos, para chegar na ponta mais rápido. Não só nisso, mas no geral”.
“Não adianta acudir uma coisa e botar mais dinheiro para não se saber nem para onde vai. Tem que fazer uma reforma tributária boa. Não estou falando de baixar imposto. Se você pagar o imposto e você saber para onde vai, é legal. Pode até tributar isso”, afirmou.
Brasil 247