Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla: conheça os sintomas
A doença neurológica autoimune compromete o sistema nervoso central e pode levar a alterações na visão, no equilíbrio e na capacidade muscular
Getty Images (Yuichiro Chino)
Lucas Rochada CNN, em São Paulo
A esclerose múltipla é uma doença neurológica autoimune que compromete o sistema nervoso central e pode levar a alterações na visão, no equilíbrio e na capacidade muscular. O Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla, celebrado em 30 de agosto, reforça a importância do diagnóstico da doença que atinge principalmente pessoas entre 18 e 55 anos, segundo o Ministério da Saúde.
Os sintomas estão associados a alterações em uma estrutura cerebral chamada bainha de mielina, que envolve as células nervosas pelas quais passam os impulsos elétricos responsáveis pelo controle das funções do organismo.
Saiba quais são as possíveis causas, os fatores de risco e os tratamentos disponíveis contra a doença:
Causas são desconhecidas
Um dos desafios do estudo da esclerose múltipla é definir a causa da doença. Até o momento, a ciência não tem uma resposta sobre o que leva à deterioração da bainha de mielina. As hipóteses consideram que a ação contra os tecidos do sistema nervoso seja induzida pelo próprio sistema imunológico, de acordo com a predisposição genética.
Segundo o neurologista Tarso Adoni, coordenador do Centro de Esclerose Múltipla do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, a infecção pelo vírus Epstein-Barr, causador da mononucleose, aliada à predisposição genética, pode ser um dos fatores de risco.
“Esse vírus é um fator de risco, principalmente quando ele acomete os indivíduos na adolescência. É um vírus de transmissão oral, que causa a mononucleose infecciosa, popularmente conhecida como doença do beijo, relacionada à transmissão por saliva”, explica.
“Por uma coincidência genética infeliz, parte da estrutura do vírus é parecida com parte da estrutura da mielina daquela pessoa. O sistema imunológico, na tentativa de debelar o vírus, acaba atacando também a mielina do sistema nervoso central”, complementa. O neurologista explica que, como a doença depende de fatores como a predisposição genética, não há como preveni-la.
Sinais da esclerose múltipla
As pessoas acometidas pela esclerose múltipla apresentam surtos ou ataques agudos, que podem ser revertidos espontaneamente ou com o uso de medicamentos. Os sintomas mais comuns são perda visual (neurite óptica), diminuição ou perda de movimentos dos membros (paresia), sensação de dormência ou formigamento (parestesia), disfunções da coordenação e do equilíbrio, inflamação da medula espinhal (mielite), além de alterações cognitivas e comportamentais.
Os pacientes podem apresentar, ainda, alterações ligadas à fala e deglutição, fadiga e problemas no trato urinário e digestivo.
As diferentes manifestações clínicas
Os tipos de esclerose múltipla são definidos de acordo com a evolução clínica de cada paciente, que pode se manifestar de diferentes formas. A mais comum é a forma remitente-recorrente (EM-RR), que corresponde a cerca de 85% dos casos.
Os pacientes apresentam surtos bem definidos, com sintomas clínicos que podem durar dias ou semanas e desaparecem. A recuperação geralmente é completa e sem sequelas. “O surto é um sintoma visual, sensitivo ou motor que dura alguns dias e passa”, explica Tarso.
Já as formas progressivas, que podem ser divididas em primária (EM-PP) ou secundária (EM-SP), concentram de 10 a 15% dos casos. A primária-progressiva apresenta início lento e piora constante dos sintomas. Os déficits e as incapacidades, que se acumulam ao longo do tempo, podem estabilizar ou continuar por anos.
A forma secundária, por sua vez, é uma evolução natural da remitente-recorrente, seguida pelo desenvolvimento de uma incapacidade progressiva que pode apresentar mais surtos. “Ela acomete cerca de 50% dos indivíduos que têm um início remitente-recorrente, depois de um período de 10 a 20 anos do início dos sintomas. A pessoa para de ter surtos e começa a ter uma lenta e progressiva dificuldade”, afirma.
Diagnóstico da esclerose múltipla
O diagnóstico pode ser feito a partir da investigação do histórico do paciente e de exames físicos. A confirmação é realizada por meio de exames de ressonância magnética do crânio e da coluna, com foco no encéfalo (parte do sistema nervoso localizada no interior do crânio) e na medula, além de exames laboratoriais que permitem descartar outras doenças que apresentam sintomas semelhantes.
Em casos de dúvidas, pode ser realizado, ainda, o exame do líquor, o líquido produzido no interior do cérebro com a função de proteger o sistema nervoso central.
Quando procurar ajuda
O neurologista do Sírio-Libanês alerta que as pessoas devem procurar um médico sempre que manifestarem sintomas neurológicos que persistam por dias e que não tenham uma causa definida, como alterações da visão, da sensibilidade e dos movimentos do corpo.
Tratamento da esclerose múltipla
A esclerose múltipla não tem cura. Em geral, o tratamento atua no sistema imunológico, com o intuito de reduzir a inflamação do sistema nervoso central. A medicação tem como objetivo promover a melhoria dos sintomas, reduzir a frequência e a gravidade das recorrências e diminuir o número de internações.
“Temos tratamentos orais, injetáveis por via subcutânea e infusionais que são recebidos na veia. Dependendo da medicação, pode ter uma frequência mensal ou semestral”, diz Tarso.
O tratamento da esclerose múltipla pode ser realizado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A rede pública oferece procedimentos clínicos e de reabilitação para a doença, além de medicamentos específicos.
CNN Brasil