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CONSCIÊNCIA NEGRA – TRT FM DISCUTE RACISMO ESTRUTURAL E DESIGUALDADES NO TRABALHO

Punhos cerrados de pessoas negras

O Dia da Consciência Negra é celebrado no domingo, 20 de novembro, data para falar da luta antirracista de redução das desigualdades sociais. Para discutir esse tema e também a inserção de negros e negras no mercado de trabalho, o TRT Entrevista traz a advogada e integrante do Fórum Estadual de Mulheres Negras de Mato Grosso, Ana Emília Sotero.

Confira na Radioagência TRT

O dia 20 de novembro é feriado em mais de mil cidades no país e também nos estados de Mato Grosso, Alagoas, Amazonas, Amapá e Rio de Janeiro.

O programa vai ao ar todas as segundas na rádio TRT FM, dentro do programa Estúdio 104, e ao longo da programação. Para ouvir, basta sintonizar a frequência 104.3MHz (região metropolitana de Cuiabá) ou acessar o endereço www.trtfm.com.br. Também é possível ouvir através de sites como RadiosNet e outros serviços semelhantes.

Confira os principais trechos da entrevista:

Qual o significado e a importância do Dia da Consciência Negra?

É uma data extremamente importante por ser dedicada às discussões, debates e reflexões sobre o racismo estrutural, racismo institucional e a inserção de pretos e pretas no mercado de trabalho. É uma data que traz esses assuntos à tona para toda sociedade pensar.

É um dia extremamente especial para discutir e debater e assim trabalhar para que as próximas gerações tenham uma sociedade mais justa e igualitária.

Como se manifesta a discriminação racial no Brasil?

O racismo sempre existiu, mas antigamente era mais velado. Hoje, na minha visão, infelizmente estamos vendo casos e mais casos diariamente. Eu adoro internet, lendo sites e redes sociais me deparei com um vídeo de uma loja de departamento no Rio de Janeiro que foi até trending topic no Twitter.

Uma moça negra estava experimentando algumas roupas e, de repente, a gerente branca adentrou o espaço onde ela estava e falou uma série de acusações, sendo extremamente grosseira. Ela pegou a bolsa da moça e jogou no chão, uma coisa horrorosa. Também tivemos casos de homens negros sendo mortos em supermercados. Então, infelizmente esse tipo de situação está acontecendo quase que diariamente.

Esses casos parecem estar até mais presentes agora. Estamos passando por um período de falta de amor e com manifestações de ódio. Vemos pessoas gritando em estádios, chamando jogadores negros de macaco. Infelizmente, esse racismo é nossa triste realidade.

Muitos políticos e autoridades falam que no Brasil não existe racismo. Eu mesma já vi publicações com esse tipo de afirmação do vice-presidente da República. Não aguentei e respondi a ele. Nós dois somos gaúchos e praticamente da mesma idade. Disse a ele: “Vossa excelência, você vai me desculpar, mas o Rio Grande do Sul é um dos estados mais racistas e preconceituosos. Nós somos conterrâneos e eu sei da realidade tanto quanto o senhor. Essa história de que o Brasil não é racista é mentira, o Brasil é um país racista, preconceituoso, patriarcal e machista”.

Quando estava em Buenos Aires, onde entrei em diversas lojas de cosméticos, roupas,  percebia que o segurança da loja estava muito próximo a mim. Aonde eu ia ele me acompanhava. Ainda na capital da Argentina, onde eu fazia doutorado juntamente com uma colega africana, nós entramos em uma famosa loja de café e não fomos atendidas. Vimos que deram preferência de atendimento para pessoas brancas e nós fomos embora.

Aqui em Cuiabá, no nosso Mato Grosso, passei por essa situação de racismo em um encontro de prefeitos, por exemplo, algumas pessoas se assustavam com minha presença. Infelizmente isso ainda acontece.

Como o racismo se manifesta no mercado de trabalho?

Negros e negras não têm as mesmas oportunidades. A taxa de desemprego de mulheres e negros é sistematicamente superior à de homens e brancos.

A taxa de emprego das mulheres negras é quase o dobro das mulheres brancas. Em 2018, as mulheres negras recebiam em média menos da metade do salário dos homens brancos, que ocupam o topo da escada de remuneração desse país. Atrás deles estão as mulheres brancas que possuem rendimento superior a de homens e mulheres pretos ou pardos.

Mulheres percebem 30% a 40% a menos nos mesmos cargos que homens. E as mulheres pretas e pardas recebem menos ainda. Essa é nossa realidade. Ou seja, é algo para além da questão de ser homem ou mulher. Também é uma questão racial.

Segundo o IBGE, a desigualdade também está presente na distribuição de cargos gerenciais, sendo apenas 29,9% deles exercidos por pessoas pretas ou pardas. Como superar esse cenário?

Oportunidades! Precisamos das mesmas oportunidades, porque os nossos direitos e deveres são iguais. A desigualdade está na oportunidade.

Antes de encerrar, gostaria de deixar uma reflexão sobre representatividade. A apresentadora Maju Coutinho está em um espaço de poder e representa muito para meninas negras. Uma menina, uma adolescente que a vê vai pensar: se ela chegar lá eu também posso.

(Comunicação Social)

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