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As incertezas que rondam reforma tributária do governo Bolsonaro

Mariana Schreiber – @marischreiber Da BBC News Brasil em Brasília

  • Após meses prometendo enviar uma reforma tributária ao Congresso, o governo Jair Bolsonaro decidiu apresentar sua proposta em partes. Na terça-feira (21), o ministro da Economia, Paulo Guedes, entregou ao Parlamento um projeto de lei (PL) que unifica dois impostos complexos (PIS e Cofins) em um único tributo novo, a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), com alíquota única de 12%.

Segundo o governo, essa mudança trará simplificação para as empresas pagarem seus impostos e deve reduzir os litígios administrativos e judiciais em torno da cobrança do PIS e Cofins. O princípio do CBS é o mesmo do IVA, imposto sobre valor agregado, adotado em mais de 160 países. Ele é cobrado da empresa no momento da venda dos produtos (bens ou serviços) e, caso esse item sirva de insumo para outra empresa, ele recebe créditos a serem reduzidos do imposto que será cobrando na comercialização final.

A substituição do PIS e Cofins pelo CBS, porém, deve ter impactos diferentes dependendo do setor econômico: algumas empresas podem ter redução de tributos, enquanto outras podem passar a pagar mais, o que deve gerar resistências à aprovação da mudança no Congresso.

De modo geral, especialistas na área tributária ouvidos pela BBC News Brasil consideraram positivo o pontapé inicial do governo para a reforma tributária, destacando a importância de simplificar o sistema. Eles destacaram, porém, que ainda há muita incerteza sobre as demais medidas que o governo promete anunciar e como a reforma tramitará no Congresso, onde outras duas propostas mais amplas, que unificam também impostos estaduais e municipais, são negociadas desde 2019 no Senado e na Câmara.

“Conversei com colegas economistas da área de tributação e o primeiro impacto (com o a proposta do CBS) foi positivo”, afirmou à reportagem Isaías Coelho, ex-chefe das divisões de Administração e Política Tributária do Fundo Monetário Internacional (FMI) e ex-secretário-adjunto da Receita Federal.

Próximas etapas

Direito de imagem REUTERS/Adriano Machado

Image caption O presidente Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes em foto de maio; projeto de reforma tributária é promessa do governo há meses

O Ministério da Economia diz que sua proposta de reforma tributária terá mais três etapas e prevê que ao menos uma delas será apresentada em até trinta dias. Além da criação do CBS, haverá mudanças na cobrança de IPI (Imposto Sobre Produtos Industrializados); alterações na tributação da renda de empresas e pessoas físicas; e desoneração da folha de pagamentos.

Nesse último caso, Guedes deseja que a redução de impostos cobrados sobre a contratação de trabalhadores pelas empresas seja compensada com a criação de uma taxa sobre transações financeiras similar à antiga CPMF, proposta impopular que enfrenta resistências no Congresso.

Bolsonaro solicitou ao Congresso que o PL apresentado na terça seja analisado em regime de urgência. Por ser um projeto de lei, a medida tem uma tramitação mais simples que as duas propostas de emendas constitucionais (PECs) em discussão desde o ano passado no Congresso, que traçam reformas tributárias mais amplas.

No entanto, como a proposta do governo para a reforma ainda não foi completamente anunciada, é possível que alguns setores pressionem parlamentares a não aprovar uma parte sem que antes se negocie o todo, analisa o economista do IFI (Instituição Fiscal Independente) Josué Pellegrini.

“Vai ter gente ganhando e gente perdendo (com a mudanças de impostos), isso é inevitável. Pode ser que quem perde queira que se discuta outras etapas da reforma agora, para poder calibrar agora o bolo todo”, afirma.

Segmentos do setor de serviços são os que mais têm criticado a criação de um imposto sobre valor agregado com a alíquota única para substituir o PIS e Cofins.

Direito de imagem Getty Images

Image caption Especialistas destacam que ainda há muita incerteza sobre novas medidas da reforma tributária que o governo promete anunciar e como será sua tramitação no Congresso

Isso porque, como esse setor tem cadeias produtivas mais curtas que a indústria, terá menos créditos para abater quando o imposto proposto pelo governo, o CBS com alíquota de 12%, incidir sobre suas vendas. Já o PIS e Cofins têm alíquotas que variam a depender se a cobrança gera créditos cumulativos ou não, mas acabam sendo menor que 12% no caso de cadeias de produção curtas.

Por outro lado, o setor de serviços, que é intensivo em mão de obra, quer muito que seja aprovada a desoneração da folha de pagamentos, proposta que o governo ainda encaminhará ao Congresso.

Pandemia e eleições também dificultam tramitação

Além da resistência de alguns setores, o contexto de pandemia de coronavírus e proximidade das eleições municipais também deixam a advogada tributarista Mirian Lavocat pouco otimista sobre a rapidez com que a reforma seja apreciada no Congresso. Para ela, o governo demorou a apresentar sua proposta e decepcionou ao começar de forma tímida, com uma parte dela.

Ex-conselheira do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), ela considerou positiva a intenção de simplificar o sistema com a criação do CBS, e diz que o texto proposto pelo governo de fato esclarece pontos sobre créditos tributários que reduziriam as disputas judiciais na área.

Por outro lado, ela teme que o CBS, na forma proposta pelo governo, resulte em aumento da carga tributária. Na sua avaliação, o texto apresentado pelo governo estabelece uma base de arrecadação do novo imposto mais ampla do que a base sobr

e o qual seriam calculados os créditos tributários

“Todo o setor empresarial aguardava muito por essa proposta. Como o próprio governo se intitula um governo reformista, eu esperava mais”, criticou.

BBC BRASIL

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