Por mês, consumidores devem pagar R$ 3,45 bilhões a mais em função da “bandeira de escassez hídrica”, prevista para oito meses. Ainda assim, movimento alerta para risco de novos aumentos e racionamento
Recursos serão utilizados para cobrir perdas da empresas do setor elétrico
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São Paulo – De acordo com a coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), a nova tarifa da conta de luz que passou a valer a partir desta quarta-feira (1º) vai custar R$ 3,45 bilhões por mês a mais no bolso dos consumidores. A previsão é que, em oito meses, a “bandeira de escassez hídrica” terá consumido um total de R$ 27,6 bilhões do orçamento das famílias. A nova tarifa deve vigorar, pelo menos, até abril de 2022, dado o esvaziamento dos reservatórios das usinas hidrelétricas.
A “bandeira da escassez hídrica” estabelece taxa extra de R$ 14,20 para cada 100 kWh consumidos, o que representa aumento de 49,6% em relação a atual bandeira vermelha de patamar 2 (R$ 9,492 a cada 100 kWh).
O MAB alerta que esse “gigantesco volume de recursos” será utilizado para cobrir perdas da empresas do setor elétrico. Isso porque estão operando com custos mais altos, em função da ativação das usinas termelétricas. Além disso, será utilizado também para subsidiar bônus concedidos a grandes consumidores que reduzirem o consumo de energia elétrica.
“Ou seja, o povo está sendo taxado nas contas de luz para que os donos da energia e as grandes indústrias possam seguir lucrando alto em plena crise elétrica que se soma à crise na economia nacional”, destaca o movimento, em nota.
Antes da nova bandeira, o Brasil já figurava em segundo lugar entre as tarifas de energia mais caras do mundo. Ainda assim, apesar do recente “tarifaço”, o MAB prevê “novos e grandes aumentos”, e até apagões, no próximo período, por conta da “incompetência ou má fé” na administração do setor elétrico.
Gestão dos recursos hídricos
O MAB também alega que é uma “falsidade completa” atribuir o aumento na conta de luz à falta de chuvas. De acordo com o movimento, o esvaziamento dos reservatórios é produto da política energética adotada pelo próprio governo. Dados do Operador Nacional do Sistema (ONS) revelam que o volume de água que entrou nos reservatórios em 2020 é o quarto maior da última década.
No ano passado, quando houve redução de 10% no consumo, algumas hidrelétricas, principalmente as privadas, estavam produzindo acima da média. O objetivo era aproveitar o baixo custo de produção. Outras estavam, inclusive, vertendo água que poderia ser armazenada. Agora os produtores privados também ganham, pois têm os custos das termelétricas amortizados pelo governo.
“O fracasso da atual política energética nacional é tão grande que o governo federal, através da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), está acionando usinas termelétricas a preços caríssimos, como é o caso da Usina Termelétrica William Arjona (MS), que está cobrando R$ 2.443,68 para cada 1.000 Kilowatt hora”, destaca a nota. Paralisada há quatro anos, a usina foi recentemente adquirida pelo Grupo Delta Energia, e reativada em virtude das secas em diversas regiões do país.
Rede Brasil Atual