“Qual o problema de a energia ficar um pouco mais cara?”, declarou o ministro Paulo Guedes. Especialista explica as origens e consequências do aumento prolongado na conta de luz
Por Redação RBA
Divulgação/Furnas
Na região Sudeste, reservatórios estão com apenas 22% de capacidade
São Paulo – Durante lançamento da Frente Parlamentar do Empreendedorismo, em Brasília, nesta quarta-feira (25), o ministro da Economia, Paulo Guedes, fez pouco caso em relação ao aumento na conta de luz. “Qual o problema de a energia ficar um pouco mais cara, porque choveu menos?”, declarou ministro. O problema é que não se trata de uma crise passageira. Nem está relacionado apenas à falta de chuvas. A crise ocorre, principalmente, em função de um modelo de gestão que levou os reservatórios das usinas hidrelétricas à exaustão. E precisará de muito tempo para serem devidamente recuperados.
De acordo com o integrante da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) Gilberto Cervinski, mestre em Energia pela Universidade Federal do ABC (UFABC), Guedes tenta “falsear a realidade”. Ele também criticou as medidas para redução do consumo de energia anunciadas pelo Ministério de Minas e Energia.
Enquanto os consumidores residenciais sofrem com a segunda tarifa mais cara do mundo, segundo dados da Agência Internacional de Energia (AIE), os grandes consumidores recebem energia a preço de custo. Além disso, o governo anunciou que vai pagar um bônus a esses grandes consumidores que reduzirem suas demandas energéticas. E o custo desses subsídios deve ser novamente repartido com os consumidores em geral.
“O que Guedes falou é que os trabalhadores vão pagar mais caro ainda. Mas os grandes, a classe dos ricaços, não. Estes ainda vão receber subsídios, que nós vamos ter que pagar. Essa é política energética que está em curso, o que é lamentável”, disse Cervinski, em entrevista a Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta quinta-feira (26).
Desemprego
Tais subsídios, somados ao enfraquecimento geral da economia, devem acarretar no fechamento de fábricas ou na redução de turnos, culminando no aumento do desemprego, segundo o especialista. Eles receberão R$ 600 a cada 1.000 kWh que forem poupados. Enquanto que, nos contratos firmados com esses grandes consumidores, a energia é fornecida ao custo de R$ 65 a cada 1.000 kWh. “Essa diferença vai ser jogada para os outros consumidores. E, ao mesmo tempo, vai haver a demissão dos funcionários da empresa”, afirmou Cervinski .
Tarifaço
Em 2021, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou reajustes de 7%, em média, na tarifa básica de energia cobrada dos consumidores residenciais. Além disso, a bandeira vermelha 2 foi reajustada em 52%, acarretando cerca de 12% de aumento no custo total. Contudo, esse aumento não foi suficiente para cobrir os custos de produção das termelétricas que foram acionadas para suprir a escassez de água nos reservatórios. A previsão da própria Aneel é que, no ano que vem, o aumento deva chegar a 16,68%.
Reservatórios
Por outro lado, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), os reservatórios para a geração de energia elétrica estão neste momento com apenas 30% da sua capacidade. Especificamente na região sudeste, que registra o maior consumo, como também a maior capacidade de armazenamento, os reservatórios chegaram a 22%. As chuvas, no entanto, devem ser mais intensas apenas a partir de novembro, agravando ainda mais o estresse hídrico. Em função da gravidade do quadro é que Cervinski acredita que serão necessários vários anos e muita chuva para que os reservatórios voltem a operar em níveis satisfatórios.
No entanto, esse esvaziamento dos reservatórios não foi causado apenas pela escassez de chuvas. “Por exemplo, no ano passado, quando se reduziu o consumo em função da pandemia, só produziram energia à base de água, secaram os reservatórios. E sabiam das previsões de estiagem para este ano”, observa Cervinski. Essa arquitetura do sistema tem se revelado inadequada, já que, em vez de preservar os recursos hidrológicos, o modelo colabora para a exaustão das reservas. O ideal seria incrementar a produção com outras fontes renováveis (como eólica e solar) de baixo custo, que pudessem operar concomitantemente com as hidrelétricas, reduzindo ao máximo a utilização das termelétricas, mais caras e mais poluentes.
Rede Brasil Atual